Quando eu ainda estava na graduação em Ciências Sociais e era estagiária na Fiocruz, pude participar de 2 pesquisas como pesquisadora de campo.

A primeira tinha como objetivo desvendar o itinerário terapêutico, ou seja, o caminho percorrido e estratégias utilizadas desde o momento que a pessoa se considerava doente até o desfecho da doença. Durante as entrevistas, fomos percebendo um certo padrão. O recurso a chás naturais e medicamentos “mais fracos” eram as primeiras opções e, apenas se não funcionassem, buscava-se auxílio médico.

Uma percepção bastante interessante e quase unânime, se dava em relação à eficácia do medicamento, dependendo do seu formato ou tipo de uso. Chás eram ditos “mais fracos”, pomadas eram percebidas como menos eficazes do que comprimidos, assim como as medicações líquidas. Se fossem em cápsulas, ainda menos eficazes do que as drágeas. Injeções quase sempre “resolviam o problema de imediato”.

Olá, profissionais de UX! Eu não sei o quanto esse entendimento em relação ao formato da medicação é tida em consideração na indústria farmacêutica, mas, olha, é relevante!

A outra pesquisa em que participei buscava entender porquê os pacientes com tuberculose (TB) abandonavam o tratamento (que dura cerca de 6 meses). As entrevistas foram realizadas dentro de uma comunidade dominada pelo tráfico de drogas e, após algumas tentativas e negociações, conseguimos permissão para fazermos as entrevistas.

No decorrer da pesquisa, fomos percebendo que grande parte dos pacientes estava envolvida no tráfico, já tinham sido presos e até estavam sendo procurados pela polícia. Quem, nessa situação, iria ao posto de saúde buscar medicamentos para se tratar?

É uma realidade que, à parte de qualquer juízo de valor, deve ser considerada pelo médico que sabe — ou deveria saber — a realidade do seu entorno. Nesse caso, o “produto” tratamento para TB merece toda a empatia, pesquisa e consciência da realidade social sob o risco de não ser efetivo.

Ainda, muitos pacientes relataram dificuldade em ingerir vários comprimidos ao longo do dia, durante meses e meses. Às vezes perdiam o horário certo da medicação ou simplesmente não “aguentavam mais tantos comprimidos”.

Eu sei, eu sei! Cada medicamento tem a sua função, mas considerando a capacidade científica da indústria farmacêutica mundial, não se pode pensar em algo mais amigável para o usuário/paciente para a doença infecciosa mais mortal do mundo?